Sobre o que começar a falar depois
de tantas emoções? Sobre o que começar a falar a falar depois de três meses de
blog esquecido? Mas só esquecido, não
abandonado. É que a vida às vezes, carente de acontecer pede um pouco mais de
atenção, clama por passagem. E aí ao invés de trocar e-mails a gente toca a campainha,
as figurinhas e os emoticons dão
lugar a sorrisos reais e abraços apertados.
Sobre o que falar quando preciso
contar que revi pedaços de mim que estão espalhados, que pintei os dreads de rosa, que fui voluntária em
fazendas de produção orgânica, que ajudei a fazer uma parede de barro, que pedi
demissão da vida burocrática e resolvi trabalhar de pijama curtindo, todos os
dias, a chuva de verão de refresca os fins de tarde.
Então vou falar da amizade, pois
foi ela que me moveu um semestre inteiro e foi responsável por um mês inteiro
de emoções dilacerantes e experiências de vida que nunca serão esquecidas e que
foram verdadeiras lições para minha evolução. Aproveito esse post, para
transformá-lo em carta aberta, em declaração de amor e agradecimento aos meus
queridos amigos que me receberam de braços abertos e àqueles outros que não
pude abraçar, mas ainda sim são grandes amores.
Sabe aquelas pessoas que você
conhece numa nuvem de tempestade passageira? Aquelas tempestades que arrasam
tudo, mas que duram apenas alguns minutos? Seus estragos são tão grandes,
apesar da rapidez de seu acontecimento, que mesmo depois de anos ainda é
possível ver cicatrizes na cidade. Essas pessoas foram tempestades em minha
vida. Chegaram, quebraram tudo e de repente todos se foram, inclusive eu. Mas
essa quebradeira foi uma feliz catástrofe. Um bum de emoções, certo?
Depois de anos, ainda somos os
mesmos apesar de termos mudado tanto. Mais de quatro anos se passaram e quando
nos sentamos foi como se estivéssemos na mesma mesa de bar na noite passada e
só foi preciso um, onde a gente parou mesmo? Olhos marejados, olhos curiosos,
olhos amorosos, olhos de gratidão e acolhimento. Muitos olhos sorrindo ao mesmo
tempo, não era a toa que éramos a mesa mais bonita do bar.
O tempo era curto. O tempo é sempre
curto e não importa quanto tempo tenhamos, ainda será pouco. Mas tudo bem, por
que nem sempre o coração aceita muito tempo. A cidade já era suficiente para
despertar quase dez anos de histórias e mesmo se não houvesse histórias, a
loucura da metrópole em si já é uma orquestra de metais e surdos que leva
qualquer batimento a loucura!
Pra cada canto uma história, pra
cada história um arrepio, pra cada arrepio um olho cheio d’água. Desculpa São
Paulo, mas você já é demais pra mim. Quem sabe um dia, se eu conseguir me equilibrar
mais, se eu conseguir transcender mais, talvez eu volte... um dia eu volto...
mas sinceramente São Paulo, não quero voltar. Gostaria de ver-te sorrindo, com
sua garoa de volta, mas ah pobre Sampa... como judiam de você minha querida. Como
suas ruas ficam cada vez mais duras de suportar. Volto por que a amizade grita
de tempos em tempos, mas daqui algum tempo, talvez nem as amizades estejam
contigo mais São Paulo e de você levarei o cheiro de vida vivida.
E aí a gente vai criando cada vez
mais lugares legais pra visitar e o Brasil vai virando um mapa do tesouro, onde
cada amigo é um tesouro e de tempos em tempos você vai atrás de algum diamante
bruto perdido em algum cantinho. Nessa caminhada encontrei dois ilhados num
mundo regidos por felinos selvagens que dão vida ao sonho de ser mais inteiro,
de ser mais leve, de ser mais humano. O sonho que rasteja por tijolos
improvisados e folhas de couve orgânica. Nunca foi tão lindo capinar um
terreno. Nunca foi tão lindo o suor que escorria em minhas costas, suor de
trabalho feito com puro amor, respeito e admiração pelo sonho que engatinha.
Depois de duas semanas, já estava
exausta. Já me sentia tão grande, já estava com tanta gratidão por tudo que
havia acontecido, estava tão emocionada com tudo que eu havia revisto e com os
abraços que há tanto esperava, que um desespero de voltar pra casa invadiu meu
corpo cansado. Obrigada, era só o que eu podia dizer e se tudo acabasse ali,
acabaria com chave de ouro. Mas ainda havia chão, havia muita terra pela frente
e segui meu caminho atrás de pessoas que, como nós, também estão atrás de novas
formas de vida.
E aí explodi. Explodi num
redemoinho de histórias e encontrei pessoas que como eu abandonam tudo por uma
vida mais simples, deixam tudo pra trás por momentos mais humanos, por
experiências mais verdadeiras, por ideais mais existenciais e menos comerciais.
E pude trocar experiências e renovar as forças, pois viver assim em uma sociedade
fundamentada no ter, não é tarefa das mais fáceis. Mas também não seria eu se
eu pegasse o caminho “mais fácil”.
Foi então que chorei. Chorei e pedi
casa. Chorei e voltei correndo. Até abandonar tudo tem hora, e não era hora
ainda. Mas essas pessoas nos fazem, não só acreditar, mas nos dão certeza que
dá certo abandonar caminhos pré-estabelecidos, que você não escolheu seguir por
conta própria. E antes que a vontade se tornasse plano, voltei. Voltei para meu
porto seguro, para minha casa, para meu reino. Para me recompor de toda bagunça
que as viagens causam em minha cabeça (mesmo por que minhas viagens são sempre cabalísticas
e antropológicas) e mais uma vez recomeçar e sair da zona de conforto, se é que
um dia eu entrei nela...
Mas voltei pra minha vida
satisfeita de ver tudo e todos que vi e revi. Satisfeita de poder ter tocado
naqueles que estão sempre no meu mundo virtual, satisfeita de depois de tanto
tempo longe e às vezes quase sem notícias, ainda ter profunda admiração por
todos vocês. Sabe quando usamos a expressão, fulano não me representa, ou tal
coisa me representa, bem, posso dizer que vocês me representam e que se alguém
quiser saber do que sou feita, por que aqui poucos realmente me conhecem,
bastava passar um dia com vocês queridos meus.
Obrigada pela acolhida, pelas camas
quentinhas, pelos cantinhos arrumados, pelas comidinhas, brejas, conversas
noite adentro, caronas, desabafos, trocas, emoções e histórias para a vida
inteira. Espero vê-los mais breve dessa vez. Amo vocês.
Por que depois da tempestade,
sempre vem a bonança e depois da tempestade ganhei amigos para a vida inteira.